Mulher Nua
Quando
cheguei em casa, pude perceber a total desordem de todos que por ali passaram,
durante o período em que eu estive fora. Era muita gente invadindo a minha
casa! O lustre ainda estava desolado de tanto iluminar toda aquela gente que
passou por ali naquela madrugada.
Os
rastros deixados ao chão condenavam a noite em que lá eu não estive! Como de
hábito, fui ao banheiro certificar a desordem feita em minha ausência. Posto o
banheiro; ser o local mais visitado durante um acontecimento daqueles, pois
sempre usam o banheiro se trocar conversas entre órgãos genitais. O que fizeram
por aqui?
Ao
me aproximar, não necessitei abrir a porta para certificar a existência de
total desorganização. Tudo estava sujo. O tapete! Minha nossa! O tapete estava
embolado bem atrás da porta. Era lastimável a condição do tapete; que ignorado,
pouco fora visto pelos pés imundos, que cá estiveram, e logo foi abandonado o
seu maior propósito. Desprezado atrás da porta: o tapete! Irrita-me as pessoas
que nunca limpam seus pés. Os tapetes, vejo como a última chance que se têm, de
não sujar a casa alheia com sua própria poeira. Um verdadeiro tesouro se torna
o tapete da entrada da casa; quando os transeuntes, respeitam os seus próprios
pés, limpando os mesmos, sempre que visitam qualquer casa.
Notei
que ali; naquela noite, ninguém se preocupou com o propósito de um tapete.
Ignoraram ferozmente a capacidade do mesmo; em deixar límpidos, os malditos pés
sujo de terra vermelha. Pensando em uma terra azul, desejei o tapete azul. Ao menos
este, disfarçaria as malditas marcas dos pés que sujos, insistiram em lapidar a
branca textura do pobre tapete! Senti-me péssima naquele momento em que ninguém
respeitara o meu tapete!
Tentando
calcular a desmotivada gente que ali esteve, pensei em alguns cem visitantes.
Mas como calcular as pessoas se lá eu não estava para vê-las chegar. Fui a
cozinha. A minha amada cozinha diria tudo que eu precisava saber. Eu contaria
todas as xícaras de café. Ao final, somaria estas, aos lenços de papel: estas
toalhinhas que se limpam a boca suja. Com este número, eu obteria o resultado
de quantas pessoas passaram aquela noite em minha casa.
O
mármore de minha sagrada cozinha; estava enegrecido de borras de café. Nada
estava no lugar onde deixei. Minhas amadas frutas já estavam todas podres, pela
contaminação, disseminada ali naquela fruteira: um belo objeto de decoração; o
qual, lembro-me bem de tê-lo compro em uma liquidação de utensílios domésticos.
Igualmente ao meu banheiro, a cozinha disputava com o mesmo; em desorganização.
Tudo estava fora do lugar!
Após
o choque daquele banquete “desorganizacional”; saboreei a delícia de contar
xícara por xícara. Todas sujas de bocas inundadas pelo meu tão precioso café.
Constatei exatamente 100 xícaras sujas em cima do mármore da pia. Parti para os
lenços de papel, contei um por um. Mas contar lenços fora bem mais simples: ah,
se foi! Somente havia, oito lenços de papel sobre a pia. Um total de 108
pessoas, conclui passar ali aquela noite.
Era
muita gente tomando café, enquanto oito pessoas apenas usavam os lenços,
limpavam-se no momento. Indignada com tanta desordem em minha casa, fui ao
quarto de meu filho Glauber. Ele, lá ainda estava como de costume. Dormia em
uma ressaca que nunca o vi igual. Parecia desmaiado naquela cama. O quarto
ainda estava da forma que organizei. Algo inexplicável aconteceu naquela noite.
Estranhei aquela "bagunça" intensa; e mais ainda, a inesperada reação
de meu próprio filho. Sinceramente eu esperava encontrar o quarto do Glauber
bem pior que o restante da casa, pois ele, nunca fora um rapaz organizado!
Mas
lá estava ele dormindo, em uma ressaca simplesmente inacreditável. Parecia
estar dopado ao extremo. Mas estava bom por demais a organização daquele
quarto, até o momento em que olhei ao chão, do outro lado da cama. Lá estavam
alguns álbuns de fotografias, jogados pelo chão. Um copo por meio de água,
também podia se ver bem ao lado dos álbuns espalhados e abertos. Logo mais,
próximo a cabeceira da cama, constatei a presença de mais "baderna".
A minha caixa de toalhas de papel estava vazia, e todas as minhas caras toalhas
de papel; lá estavam jogadas ao chão. Não se pode elogiar um filho! Oras, vejam
o que o rapaz me apronta do outro lado da cama!
Indignada,
sai do quarto em direção ao meu quarto. André haveria de ter a mínima postura
perante a minha ausência e deixar o nosso quarto arrumado. Ao me aproximar,
achei muito estranho o que avistei. O André inexplicavelmente também estava de
ressaca. Haveria em minha cama uma nua mulher? Não, não havia! Pude constatar.
Somente André estava lá. Sonhava sozinho. Mesmo assim, encarei a situação como
um verdadeiro complô contra mim. Todos se aproveitaram de minha ausência! Para
descumprir os meus princípios organizacionais dentro do meu próprio lar? Tantos
anos dedicados, e agora? Um abuso muito; achei tudo aquilo que eu via. Mal viro
as costas e lá estão todos querendo explorar o meu trabalho árduo de dona de
casa.
Eu
não tinha a menor importância. Nem mesmo o meu reflexo eu podia ver naquilo
tudo. Ninguém valorizava tanto o que já fiz? Oras! Me conheciam! Iam todos me
escutar. Ah se iam! Iam ouvir-me assim que acordassem. As horas passavam das
nove da manhã e o André ainda dormia como uma criança. Algumas toalhas de papel
ali jogadas ao chão, e um copo de bebida vazio em cima do meu mudo criado.
Revoltei-me ao ver que André havia bebido! A desordem dentro de minha casa
teria sido geral. Era fato! Meu esposo e meu filho dormiam até aquelas horas.
Com toda certeza a fará fora uma das melhores que já tiveram!
Chamei
o André; propus que ele acordasse, mas de nada valeu. Dormia profundamente.
Naquele dia, perderia o trabalho com toda certeza. Fiquei a pensar, será demito
o André? Em tempos de salários curtos, e gente passando fome de algodão doce;
seria inaceitável que André perdesse o sustento de nossa família; por uma única
noite, em que eu não estive em casa organizando as mínimas coisas, as quais
valorizei a vida inteira. A fará foi intensa, não restava-me duvida até o
momento seguinte...
Escutei
um barulho vindo da sala, pensei que fosse ladrão. Fui até lá. O receio da
morte corria nas veias; embora todos já se tenham este propósito, assim que
nascemos; afinal, quem nasce para sempre nascer, morrer não é problema algum? O
salafrário daquele bandido, poderia estar armado dentro de minha casa, e ainda
matar-me-ia ali na sala mesmo! Mas em passos silenciosos fui em busca do
intruso que adentrou o meu espaço. Ao subir a escada, já no último degrau, ouvi
a voz de meu pai. Estava trêmula, a sua já cansada fala. Olhei bem para dentro
da sala e finalmente avistei:
Estavam
ali, papai e mamãe; os meus dois irmãos mais velhos e as gêmeas. Deitados em
colchões espalhados pelo chão. Assustei-me com a cena! Eu não esperava vê-los
tão cedo, pois as férias ainda não haviam chegado, faltavam três meses para nós
reencontrar. Mas lá estavam os seis. Estavam em minha casa. Mamãe tinha a minha
foto de formatura, ainda na moldura, posta sobre o seu peito. Mamãe, deitada em
impróprio leito. Aconchegava-me com carinho em cima do próprio peito. Oh vida!
Oh lida! Oh leito!
Papai
falava com ela sobre a minha infância. Ela soluçava e chorava muito.
Foi
quando entendi; os oito papeis toalha em cima do mármore de minha cozinha.
Eu estava
nua! Vestida de céu. A noite foi minha!
Autora: Luciene Rroques
Goiânia-Go.
(OS CONTOS SECRETOS) Mulher Nua. Ano de 2001.
Parabéns, você descobriu este conto! (comentem a vontade)
OBS: Este trabalho faz parte da série de contos que escrevo. Descrevendo conclusões e comportamentos sociais. Sei que algumas pessoas já conhecesse o meu trabalho (e até mesmo este conto). Mas hoje, quero compartilhar com todos vocês que visitam minha página, e pouco conhecem de minha escrita comportamental, posto que aqui, publico mais meus artigos, ensaios. Em especial quero dedica-lo (o conto - Mulher nua) ao professor Bento, esta pessoa que tanto têm sempre a contribuir com todos que trocam palavras com ele. (sinto pelo seu amigo professor). Após ler o seu blog hoje, decidi; compartilhar além dos já publicados em livros, mais um pedacinho do meu trabalho com todos que por aqui sempre estão como você, um abraço.
Espero não chocar ninguém! (Pois geralmente acontece) Mas é assim que escrevo, este é meu trabalho.
Um abraço a todos!