segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Mulher nua




Mulher Nua


Quando cheguei em casa, pude perceber a total desordem de todos que por ali passaram, durante o período em que eu estive fora. Era muita gente invadindo a minha casa! O lustre ainda estava desolado de tanto iluminar toda aquela gente que passou por ali naquela madrugada.

Os rastros deixados ao chão condenavam a noite em que lá eu não estive! Como de hábito, fui ao banheiro certificar a desordem feita em minha ausência. Posto o banheiro; ser o local mais visitado durante um acontecimento daqueles, pois sempre usam o banheiro se trocar conversas entre órgãos genitais. O que fizeram por aqui?

Ao me aproximar, não necessitei abrir a porta para certificar a existência de total desorganização. Tudo estava sujo. O tapete! Minha nossa! O tapete estava embolado bem atrás da porta. Era lastimável a condição do tapete; que ignorado, pouco fora visto pelos pés imundos, que cá estiveram, e logo foi abandonado o seu maior propósito. Desprezado atrás da porta: o tapete! Irrita-me as pessoas que nunca limpam seus pés. Os tapetes, vejo como a última chance que se têm, de não sujar a casa alheia com sua própria poeira. Um verdadeiro tesouro se torna o tapete da entrada da casa; quando os transeuntes, respeitam os seus próprios pés, limpando os mesmos, sempre que visitam qualquer casa.

Notei que ali; naquela noite, ninguém se preocupou com o propósito de um tapete. Ignoraram ferozmente a capacidade do mesmo; em deixar límpidos, os malditos pés sujo de terra vermelha. Pensando em uma terra azul, desejei o tapete azul. Ao menos este, disfarçaria as malditas marcas dos pés que sujos, insistiram em lapidar a branca textura do pobre tapete! Senti-me péssima naquele momento em que ninguém respeitara o meu tapete!

Tentando calcular a desmotivada gente que ali esteve, pensei em alguns cem visitantes. Mas como calcular as pessoas se lá eu não estava para vê-las chegar. Fui a cozinha. A minha amada cozinha diria tudo que eu precisava saber. Eu contaria todas as xícaras de café. Ao final, somaria estas, aos lenços de papel: estas toalhinhas que se limpam a boca suja. Com este número, eu obteria o resultado de quantas pessoas passaram aquela noite em minha casa.

O mármore de minha sagrada cozinha; estava enegrecido de borras de café. Nada estava no lugar onde deixei. Minhas amadas frutas já estavam todas podres, pela contaminação, disseminada ali naquela fruteira: um belo objeto de decoração; o qual, lembro-me bem de tê-lo compro em uma liquidação de utensílios domésticos. Igualmente ao meu banheiro, a cozinha disputava com o mesmo; em desorganização. Tudo estava fora do lugar!

Após o choque daquele banquete “desorganizacional”; saboreei a delícia de contar xícara por xícara. Todas sujas de bocas inundadas pelo meu tão precioso café. Constatei exatamente 100 xícaras sujas em cima do mármore da pia. Parti para os lenços de papel, contei um por um. Mas contar lenços fora bem mais simples: ah, se foi! Somente havia, oito lenços de papel sobre a pia. Um total de 108 pessoas, conclui passar ali aquela noite.

Era muita gente tomando café, enquanto oito pessoas apenas usavam os lenços, limpavam-se no momento. Indignada com tanta desordem em minha casa, fui ao quarto de meu filho Glauber. Ele, lá ainda estava como de costume. Dormia em uma ressaca que nunca o vi igual. Parecia desmaiado naquela cama. O quarto ainda estava da forma que organizei. Algo inexplicável aconteceu naquela noite. Estranhei aquela "bagunça" intensa; e mais ainda, a inesperada reação de meu próprio filho. Sinceramente eu esperava encontrar o quarto do Glauber bem pior que o restante da casa, pois ele, nunca fora um rapaz organizado!

Mas lá estava ele dormindo, em uma ressaca simplesmente inacreditável. Parecia estar dopado ao extremo. Mas estava bom por demais a organização daquele quarto, até o momento em que olhei ao chão, do outro lado da cama. Lá estavam alguns álbuns de fotografias, jogados pelo chão. Um copo por meio de água, também podia se ver bem ao lado dos álbuns espalhados e abertos. Logo mais, próximo a cabeceira da cama, constatei a presença de mais "baderna". A minha caixa de toalhas de papel estava vazia, e todas as minhas caras toalhas de papel; lá estavam jogadas ao chão. Não se pode elogiar um filho! Oras, vejam o que o rapaz me apronta do outro lado da cama!

Indignada, sai do quarto em direção ao meu quarto. André haveria de ter a mínima postura perante a minha ausência e deixar o nosso quarto arrumado. Ao me aproximar, achei muito estranho o que avistei. O André inexplicavelmente também estava de ressaca. Haveria em minha cama uma nua mulher? Não, não havia! Pude constatar. Somente André estava lá. Sonhava sozinho. Mesmo assim, encarei a situação como um verdadeiro complô contra mim. Todos se aproveitaram de minha ausência! Para descumprir os meus princípios organizacionais dentro do meu próprio lar? Tantos anos dedicados, e agora? Um abuso muito; achei tudo aquilo que eu via. Mal viro as costas e lá estão todos querendo explorar o meu trabalho árduo de dona de casa.

Eu não tinha a menor importância. Nem mesmo o meu reflexo eu podia ver naquilo tudo. Ninguém valorizava tanto o que já fiz? Oras! Me conheciam! Iam todos me escutar. Ah se iam! Iam ouvir-me assim que acordassem. As horas passavam das nove da manhã e o André ainda dormia como uma criança. Algumas toalhas de papel ali jogadas ao chão, e um copo de bebida vazio em cima do meu mudo criado. Revoltei-me ao ver que André havia bebido! A desordem dentro de minha casa teria sido geral. Era fato! Meu esposo e meu filho dormiam até aquelas horas. Com toda certeza a fará fora uma das melhores que já tiveram!

Chamei o André; propus que ele acordasse, mas de nada valeu. Dormia profundamente. Naquele dia, perderia o trabalho com toda certeza. Fiquei a pensar, será demito o André? Em tempos de salários curtos, e gente passando fome de algodão doce; seria inaceitável que André perdesse o sustento de nossa família; por uma única noite, em que eu não estive em casa organizando as mínimas coisas, as quais valorizei a vida inteira. A fará foi intensa, não restava-me duvida até o momento seguinte...

Escutei um barulho vindo da sala, pensei que fosse ladrão. Fui até lá. O receio da morte corria nas veias; embora todos já se tenham este propósito, assim que nascemos; afinal, quem nasce para sempre nascer, morrer não é problema algum? O salafrário daquele bandido, poderia estar armado dentro de minha casa, e ainda matar-me-ia ali na sala mesmo! Mas em passos silenciosos fui em busca do intruso que adentrou o meu espaço. Ao subir a escada, já no último degrau, ouvi a voz de meu pai. Estava trêmula, a sua já cansada fala. Olhei bem para dentro da sala e finalmente avistei:

Estavam ali, papai e mamãe; os meus dois irmãos mais velhos e as gêmeas. Deitados em colchões espalhados pelo chão. Assustei-me com a cena! Eu não esperava vê-los tão cedo, pois as férias ainda não haviam chegado, faltavam três meses para nós reencontrar. Mas lá estavam os seis. Estavam em minha casa. Mamãe tinha a minha foto de formatura, ainda na moldura, posta sobre o seu peito. Mamãe, deitada em impróprio leito. Aconchegava-me com carinho em cima do próprio peito. Oh vida! Oh lida! Oh leito!

Papai falava com ela sobre a minha infância. Ela soluçava e chorava muito.

Foi quando entendi; os oito papeis toalha em cima do mármore de minha cozinha.

Eu estava nua! Vestida de céu. A noite foi minha!

 

Autora: Luciene Rroques

Goiânia-Go.

(OS CONTOS SECRETOS) Mulher Nua. Ano de 2001.


Parabéns, você descobriu este conto! (comentem a vontade)


OBS: Este trabalho faz parte da série de contos que escrevo. Descrevendo conclusões e comportamentos sociais. Sei que algumas pessoas já conhecesse o meu trabalho (e até mesmo este conto). Mas hoje, quero compartilhar com todos vocês que visitam minha página, e pouco conhecem de minha escrita comportamental, posto que aqui, publico mais meus artigos, ensaios. Em especial quero dedica-lo (o conto - Mulher nua) ao professor Bento, esta pessoa que tanto têm sempre a contribuir com todos que trocam palavras com ele. (sinto pelo seu amigo professor). Após ler o seu blog hoje, decidi; compartilhar além dos já publicados em livros, mais um pedacinho do meu trabalho com todos que por aqui sempre estão como você, um abraço.

Espero não chocar ninguém! (Pois geralmente acontece) Mas é assim que escrevo, este é meu trabalho.

Um abraço a todos!

20 comentários:

Terê. disse...

olá minha querida. lindo texto, amei, parabens, bju terê.

Bento Sales disse...

Luciene, a princípio, pensei que a casa da protagonista tinha sido invadida pelos sem-teto ou sem-terra, em razão da desordem, mas, para surpresa final,vi que se tratava de um conto maravilhoso.
Narrar em primeira pessoa, às vezes, leva os leitores a confundir o personagem com o autor, o que é um equívoco. Nem sempre a opinião do personagem é a mesmo de seu criador.

Eu vivo explicando isso para meus leitores.

Querida amiga, parabéns pelo conto, talento e obrigado pela lembrança do amigo e pela amizade!

Um forte abraço!

jorgil disse...

Li. Gostei. Uma boa semana!
Um abraço.

Adriana Antunes Polak disse...

Ufa! Fiquei sem fala, extasiada...tamanho foi o gosto de gostar. Quero mais. Onde encontro? Onde comprar?

Parabéns, parabéns...

Bjos.

Edum@nes disse...

Lindo conto bem contado,
Da casa toda desarrumada
Estava tudo complicado
A mulher nua não encontrada,
Mas afinal esta ali
Em sua casa, no seu lugar
O pensamento estava longe
Noutra mulher pensava
Poucos guardanapos via
As xicaras contava
Algo não batia certa
Mas nada em casa faltava!

Muito lindo. Gostei.
Continuação de boa semana.
Um bjo
Eduardo.

Luciene Rroques disse...

Obrigada prof. Bento é bem verdade. Muitas vezes somos confundidos com tudo que escrevemos sim. No meu caso, é bem comum as pessoas fazer isto; o mais legal de tudo é que não posso ser tudo que descrevo, pois descrevo comportamentos humanos, mas mesmo assim, poucos isto entendem e muitos querem descobrir o autor pela escrita. Tá ai o meu grande segredo. Impossível ser tanta coisa, posto que falo de tudo abertamente, pois meus contos são o que há de secreto no mundo desumano e pouco falado, criam revolta, entre inúmeros sentimentos e perpectivas em quem lê. Sou sempre julgada, especulada, como fria, quente, louca, infeliz, desumana, desacredita do amor, incredula em Deus entre tantos outros adjetivos que já me enviaram, kkk, etc... Mas é bom toda essa confusão, pois e justo assim que eu me resguardo a minha verdadeira cena, a qual apenas eu conhecerei, posto que EU nunca farei minha biografia.
Um abraço!

Luciene Rroques disse...

Obrigada Jorge.
Um abraço!

Luciene Rroques disse...

Adriana: gosto muito do seu jeito espontânea. Algumas editoras estão na minha mira, mas é complicado definir, pois nem todas fazem o trabalho da forma que pretendemos. Sairia agora no final do ano uma coleção deste projeto "Os Contos Secretos," mas a editora pretendia tirar certos "xoques que uso", dai preferi recomeçar a busca pela editora perfeita mais uma vez.
A Belacop publicou este ano um dos meus contos que fazem parte deste projeto. O livro chama-se " Pequenas histórias, grandes emoções".
E Além do meu casamento com a editora certa, que atenda sem cortar-me, ainda falta em alguns contos alguns ajustes finais, que ainda estou organizando e agora recomecei avaliar as editoras. Mas assim que forem publicados aviso. Terá um trabalho que você vai adorar tenho certeza. O conto chefe deste novo trabalho; chama-se Solidão Gatave! Trabalho nele a dois anos. Estou quase finalizando.
Um abraço

Luciene Rroques disse...

Eduardo: grata pelo comentário. A mulher nua é um grande mistério sem dúvida.
Um abraço!

Luciene Rroques disse...

Tere: agradeço!
Um abraço.

Luciene Rroques disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anônimo disse...

Luciene, impossível não gostar da forma como você escreve,passa tanta coisa em poucas linhas. Ler o que a senhora escreve é que é um privilégio. Parabéns.
Sandra.

Med disse...

Luciene querida, lendo os teu comentários aqui, fico a imaginar o quanto es discreta e tão simples. O valor do sua pessoa é o tesouro de tudo que você escreve. sempre entro aqui para ler seus textos, pois sou fã de carterinha sua há anos e você sabe disso! Muito me admira o quanto alguém como você é tão silenciosa, humilde. Na última palestra adivinhe? Um professor nada educado, com um ar narcisista, veio nos visitar. Sei que desaprova o que acabo de dizer, mas por lhe conhecer é que eu quis comparar vocês. Acho que já imaginou quem deu a última palestra, lamentamos. Parabéns pelo seu belo e sem dúvida inteligentíssimo trabalho. Admiramos você homo-sapiens. Saudade de você por aqui dizendo isto. Os professores aqui, mandam beijos e parabéns, eita povo que não trabalha, fica lendo seu blog, rsrs, somente eu trabalho aqui!( intervalo) rsrs.
Beijos!

Med disse...

Luciene, o Sandoval manda dizer que, OLHOS DE GATO, merecia um livro urgente! Ele já está com o livro na biblioteca. Beijos de todos nós.

Anônimo disse...

Te admiro, não somente pela pessoa, mas o cérebro! Demais o conto.Demais!
Abração.

Luciene Rroques disse...

Prof, Silvia, agradeço sempre o carinho de todos vocês. queria eu se um terço de tudo que ouço, seria um ser humano mutante, kkk, eu acho. Sou sim grata a tantas palavras que recebo todos os dias quando abro meu email e este espaço aqui.
Prof.Sandoval, agradecida sempre. Quero apenas dizer um abraço pra estes professores nota 10 de sempre.
Um abraço!

Luciene Rroques disse...

Sandra agradeço as suas palavras, você sumiu. Recebeu meu email?
Um abraço!

Luciene Rroques disse...

"Anônimo" a função anônimo aqui, geralmente é identificada pelas inúmeras pessoas que por aqui sempre passam, e utilizam o recurso, mas de qualquer modo, obrigada pelas palavras Anônimo.
Um abraço!

Magda Borba disse...

Muito Bom amiga!
Quero agradece-la pela visita e dizer que ainda estou aprendendo. Sou uma eterna aprendiz, mas o que meu coração diz, já havia a muito sentido. Bjinhos de luz!

Luciene Rroques disse...

Eu que agradeço Magda.
Um abraço!