A ROSA AZUL
Sempre, nunca se via o inteiro; a verdade doía na alma dos homens que não eram verdadeiros. Presos no celeiro da imensidão. Vazio da alma no mundo da desilusão. A rosa difere em sua única designação!
Por vezes, era assim, e é assim que sempre começa o desespero. Homens se engalfinhado debaixo dos seus travesseiros. Presos a um mundo onde nunca pertenceram. O mundo só tinha atoleiros, perdidos no tabuleiro da sorte bendita. De cara com a morte e nem viam a fita; era tão bonita!
Dona Ednalva olhava para Zelda e sorria. Mulher diferente como aquela, ali não se via; era mistério, era magia, era duro minério, que existia! Era um bicho contente, era bicho diferente de toda a gente. Andava levemente, mas nunca lentamente. Só ficava na espia. Observava toda a vida, e de longe assistia! A multidão, desconhecia; o que achavam, que entendia!
Dona Ednalva; observando Zelda a ler o jornal, ali, calada, de cara fechada e atenta. Maquinando coisas sem dizer absolutamente nada. Via tantas rosas despetaladas; maltratadas, humilhadas e abusadas. Ficava ali; só olhando as rosas, em sua inocente e fremente prosa indecorosa. E o tempo foi passando sem se misturar as rosas ao azul da rosa. Nem em verso, nem em prosa, havia outra rosa azul. O reverso do reverso, tem a rosa azul no verso, onde os homens morrem calados! Dona Ednalva resolveu finalmente lhe perguntar:
-Zelda, tantas mulheres violentadas no mundo, estupradas e mal amadas; aparecem no jornal a todo o segundo. E você? O que estás a pensar? Sentada na espreita da estrada, rosa azul admirada, eternamente amada. Vendo as rosas com seus cravos humilhadas; drogadas de ilusão, e confusas de coração!
Zelda era calada, uma pessoa reservada, sem dar muita atenção. Ninguém sabia nem mesmo a sua profissão. Era certo que começava com a letra P; e que, andava na escuridão em noites de muito clarão na ponta do dedo indicador. Por noites, e dias, ela sumia dos olhos da multidão! E era um P maiúsculo, a sua profissão! Nem dona Ednalva sabia o motivo, ou razão; do mistério escondido naquela dimensão da rosa azul. Era assim desconhecida; a rosa azul no crime e na condenação. Como poderia alguém, explicar a ilusão! A rosa abria o clarão, e homens mortos caiam ao chão!
Certa vez, Zelda resolveu conversar um pouco mais. Parou na venda de Dona Ednalva, e ficou por ali um pouquinho. Sentou-se do outro lado do balcão e começou a dialogar com a curiosa senhora. Dona Ednalva, não perdeu a oportunidade, e se pós a perguntar. Era tanta a curiosidade, e todos estavam a olhar:
- Diz ai tua profissão, todos estão a comentar; falam pelos cotovelos e já nem sabem mais o que achar! Flores vermelhas são amor; trazem o sexo no olhar. Flores rosas, são delicadezas, que estão a se esmagar! Curiosos todos são, para entender a imensidão na profissão da rosa azul. Quem es tu? Dizem por estas bandas, que você Zelda, mete medo nas falanges do dedo a dobrar; e até os homens de tua profissão teme ao vê-la executar.
Zelda ouvindo as palavras da senhora do balcão; resolveu então quebrar o silêncio, falaria tudo e não diria absolutamente nada!
- Faça silêncio dona Ednalva, eu jamais vou falar do azul de minha alma; é segredo bem guardado o que estas a procurar. É sabido que as letras muitas palavras podem formar. Mas na minha profissão, acredite, só justiça haverá; em qualquer dia, em qualquer lugar! Uma coisa é muito certa, basta a senhora se atentar; observe que eu passou e não fico a esperar. Observe que eu faço, e não há quem possa em mim mandar!
A curiosidade de dona Ednalva era tanta que do outro lado do balcão da venda ela ficava a se coçar por inteiro! Ali pensava: A letra P, tem a Princesa ao demonstrar delicadeza. Letra P tem a professora no futuro a escolha. Letra P tem mulher de qualquer profissão. Com o P se escreve o que se enxerga na mão. A letra P tem todas as palavras que a mente puder imaginar! Mas a palavra exata, só a morte pode explicar! Já cansada da conversa, que jamais vai acabar; resolveu, deixar como está!
Precisando partir, tinha sede de justiça, não iria ficar ali parada. Lá se vai Zelda, com um brilho no olhar! Radiante mais que antes lá estava só a pensar! Antes de partir, se volta ao balcão da mercearia e com dona Ednalva se põe a falar:
-Antes que eu vá me embora, dona Ednalva, me venda três caixas de bala! Pois o serviço é longo, tem muita mulher no sangue do jornal; e eu, não gosto de ficar parada, lendo sem fazer absolutamente nada! Muita desigualdade daqueles que se acham iguais; e assim, se tornam banais, meros mortais. Me falta a bondade com a injustiça social! Vê-me logo ai, as minhas caixas de bala! Eu preciso ir.
Do outro lado da rua, crianças cantavam: o cravo brigou com a rosa debaixo de uma sacada... Na cantiga o cravo sempre saia ferido, e as rosas despedaçadas! Zelda ouvindo a cantoria de crianças inocentes, deixou pago no balcão de dona Ednalva, uma caixa de bala para todas as meninas que ali entrassem depois da brincadeira! Afinal, rosas rosas e rosas vermelhas só se despedaçam ao lado de cravos embaixo de uma sacada!
Deixou pago ainda no balcão, o curativo para os meninos que caiam na brincadeira de roda; pequenos cravos machucados feridos e maltratados! Antes de partir, ouvindo as ultimas estrofes da canção, pensou ainda que: as crianças não devem brincar de roda com as flores que enfeitam o jardim da vida, sejam cravos, rosas ou margaridas, com a vida não se brinca! Mas, aquele mundo de roda não lhe pertencia, Zelda só observava, e sempre partiria.
Deixou pago ainda no balcão, o curativo para os meninos que caiam na brincadeira de roda; pequenos cravos machucados feridos e maltratados! Antes de partir, ouvindo as ultimas estrofes da canção, pensou ainda que: as crianças não devem brincar de roda com as flores que enfeitam o jardim da vida, sejam cravos, rosas ou margaridas, com a vida não se brinca! Mas, aquele mundo de roda não lhe pertencia, Zelda só observava, e sempre partiria.
Já com muita pressa, pois o tempo e a solidão são os maiores amores de um rosa azul; lá se vai Zelda, no suave cheiro do planeta nu. Mergulhada na realidade em ponto cru, voa longe, a rosa azul! Porém, antes de deixar a venda de dona Ednalva, ela diz:
-Vê-me logo estas caixas de bala! Pois canção de criança, nem quando criança, eu gostava de ouvir! Eu só canto com balas, que embala; o doce da língua, no fel de qualquer alma, que suspira inspira e cala na bala! Dê-me logo estas caixas de bala! É longa a minha jornada, e eu, já nasci com o pé na estrada!
A senhora curiosa, vendo a rosa azul partir, no mártir da fofoca de praça, já sem graça, um pouco mais queria lhe ouvir:
-Mas, para que tantas balas, Zelda? Nunca vi uma mulher fazer compras iguais as tuas!
Zelda escutou, mas não ouviu; e calou. Contente e sorridente, falou somente o trivial com a lente dos olhos. Como sempre enigma somente! Deixou o recinto com as caixas de bala nas mãos. Subiu a rua como de costume, e tornou-se novamente a rosa azul na imensidão dos seres. Um ser estranho! Um sabor tamanho de homem cru! Subiu a rosa, que nunca foi rosa; nem vermelha, nem amarela; nem de muita prosa! Era somente a rosa azul. Zelda nunca foi vista nos jornais, e ninguém jamais matará a curiosidade sobre a tua justa profissão; pois ela é feita de imensidão!
Um grande abraço a todos!