segunda-feira, 25 de novembro de 2013

A rosa azul

 
A ROSA AZUL

Sempre,  nunca se via o inteiro; a verdade doía na alma dos homens que não eram verdadeiros. Presos no celeiro da imensidão. Vazio da alma no mundo da desilusão. A rosa difere  em sua única designação!
 
Por vezes,  era assim, e é assim que sempre começa o desespero. Homens se engalfinhado debaixo dos seus travesseiros. Presos a um mundo onde nunca pertenceram. O mundo só tinha atoleiros, perdidos no tabuleiro da sorte bendita. De cara com a morte e nem viam a fita; era tão bonita!
 
Dona Ednalva olhava para Zelda e sorria. Mulher diferente como aquela, ali não se via; era mistério, era magia, era duro minério, que existia! Era um bicho contente, era bicho diferente de toda a gente. Andava levemente, mas nunca lentamente. Só ficava  na espia. Observava toda a vida, e de longe assistia! A multidão, desconhecia; o que achavam, que entendia!

Dona Ednalva; observando Zelda a ler o jornal, ali, calada, de cara fechada e atenta. Maquinando coisas sem dizer absolutamente nada. Via tantas rosas despetaladas; maltratadas, humilhadas e abusadas. Ficava ali; só olhando as rosas, em sua inocente e fremente prosa indecorosa. E o tempo foi passando sem se misturar as rosas ao azul da rosa. Nem em verso, nem em prosa, havia outra rosa azul. O reverso do reverso, tem a rosa azul no verso, onde os homens morrem calados! Dona Ednalva resolveu finalmente lhe perguntar:

-Zelda, tantas mulheres violentadas no mundo, estupradas e mal amadas; aparecem no jornal a todo o segundo. E você? O que estás a pensar? Sentada na espreita da estrada, rosa azul admirada, eternamente amada. Vendo as rosas com seus cravos humilhadas; drogadas de ilusão, e confusas de coração!

Zelda era calada, uma pessoa reservada, sem dar muita atenção. Ninguém sabia nem mesmo a sua profissão. Era certo que começava com a letra P; e que, andava na escuridão em noites de muito clarão na ponta do dedo indicador. Por noites, e dias, ela sumia dos olhos da multidão! E era um P maiúsculo, a sua profissão! Nem dona Ednalva sabia o motivo, ou razão; do mistério escondido naquela dimensão da rosa azul. Era assim desconhecida; a rosa azul no crime e na condenação. Como poderia alguém, explicar a ilusão! A rosa abria o clarão, e homens mortos caiam ao chão!

Certa vez, Zelda resolveu conversar um pouco mais. Parou na venda de Dona Ednalva, e ficou por ali um pouquinho. Sentou-se do outro lado do balcão e começou a dialogar com a curiosa senhora.  Dona Ednalva, não perdeu a oportunidade, e se pós a perguntar. Era tanta a curiosidade, e  todos estavam a olhar:
 
- Diz ai tua profissão, todos estão a comentar; falam pelos cotovelos e já nem sabem mais o que achar! Flores vermelhas são amor; trazem o sexo no olhar. Flores rosas, são delicadezas, que estão a se esmagar! Curiosos todos são,  para entender a imensidão na profissão da rosa azul. Quem es tu? Dizem por estas bandas, que você  Zelda, mete medo nas falanges do dedo a dobrar; e até  os homens  de tua  profissão teme  ao vê-la  executar.
 
Zelda ouvindo as palavras da senhora do balcão; resolveu então quebrar o silêncio, falaria tudo e não diria absolutamente nada!
 
- Faça silêncio dona Ednalva, eu jamais vou falar do azul de minha alma; é segredo bem guardado o que estas a procurar. É sabido que as letras muitas palavras podem formar. Mas na minha profissão, acredite, só justiça haverá; em qualquer dia, em qualquer lugar! Uma coisa é muito certa, basta a senhora se atentar; observe que eu passou e não fico a esperar. Observe que eu faço, e não há quem possa em mim mandar!

A curiosidade de dona Ednalva era tanta que do outro lado do balcão da venda ela ficava a se coçar por inteiro! Ali pensava: A letra P, tem a Princesa ao demonstrar delicadeza. Letra P tem a professora no futuro a escolha. Letra P tem mulher de qualquer profissão. Com o P se escreve o que se enxerga na mão. A letra P tem todas as palavras que a mente puder imaginar! Mas a palavra exata, só a morte pode explicar! Já cansada da conversa, que jamais vai acabar; resolveu, deixar como está!
 
Precisando partir, tinha sede de justiça, não iria ficar ali parada. Lá se vai  Zelda, com um brilho no olhar! Radiante mais que antes lá estava só a pensar! Antes de partir, se volta ao balcão da mercearia e com dona Ednalva se põe a falar:
 
-Antes que eu vá me embora, dona Ednalva, me venda  três caixas de bala! Pois o serviço é longo, tem muita mulher no sangue do jornal; e eu, não gosto de ficar parada, lendo sem fazer absolutamente nada! Muita desigualdade daqueles que se acham iguais; e assim, se tornam banais, meros mortais. Me falta a bondade com a injustiça social! Vê-me logo ai, as minhas caixas de bala! Eu preciso ir.
 
Do outro lado da rua, crianças cantavam:  o cravo brigou com a rosa debaixo de uma sacada... Na cantiga  o cravo sempre saia ferido, e as rosas despedaçadas! Zelda ouvindo a cantoria de crianças inocentes, deixou pago no balcão de dona Ednalva, uma caixa de bala para todas as meninas que ali entrassem depois da brincadeira! Afinal, rosas rosas e rosas vermelhas só se despedaçam ao lado de cravos embaixo de uma sacada!

Deixou pago ainda no balcão, o curativo para os meninos que caiam na brincadeira de roda; pequenos cravos machucados feridos e maltratados! Antes de partir, ouvindo as ultimas estrofes da canção, pensou ainda que: as crianças não devem brincar de roda com as flores que enfeitam o jardim da vida, sejam cravos, rosas ou margaridas, com a vida não se brinca! Mas, aquele mundo de roda não lhe pertencia, Zelda só observava, e sempre partiria.
 
Já com muita pressa, pois o tempo e a solidão são os  maiores amores de um rosa azul; lá se vai Zelda, no suave cheiro do planeta nu. Mergulhada na realidade em ponto cru, voa longe, a rosa azul! Porém, antes de deixar a venda de dona Ednalva, ela  diz:
 
-Vê-me logo estas caixas de bala! Pois canção de criança, nem quando criança, eu gostava de ouvir! Eu só canto com balas, que embala; o doce da língua, no fel de qualquer alma, que suspira inspira e cala na bala!  Dê-me logo estas caixas de bala! É  longa a minha jornada, e eu, já nasci com o pé na estrada!
 
A senhora curiosa, vendo a rosa azul partir, no mártir da fofoca de praça, já sem graça, um pouco mais queria lhe ouvir:
 
-Mas, para que tantas balas, Zelda? Nunca vi  uma mulher fazer compras iguais as tuas!
 
Zelda escutou, mas não ouviu; e calou.  Contente e sorridente, falou somente o trivial com a lente dos olhos. Como sempre enigma somente! Deixou o recinto com as caixas de bala nas mãos. Subiu a rua como de costume, e tornou-se novamente a  rosa azul na imensidão dos seres. Um ser estranho! Um sabor tamanho de homem cru! Subiu a rosa, que nunca foi rosa; nem vermelha, nem amarela; nem de muita prosa! Era somente a rosa azul. Zelda nunca foi vista nos jornais, e ninguém jamais matará a curiosidade sobre a tua justa profissão; pois ela é feita de imensidão! 
 

Um grande abraço a todos!

6 comentários:

Claudio Chamun disse...

Fiquei aqui imaginando qual será a profissão de Zelda.
O que ele faz com tantas balas...
Abraço.

Luciene Rroques disse...

Claudio C. agradeço a sua visita e as palavras.
Parabéns pelo texto em tua página.
Tenha uma excelente semana.
Muita paz e felicidades sempre!
Um grande abraço!

Unknown disse...

...ciao cara Luciene, la tua penna scrive in maniera eccellente!...il racconto breve coinvolge il pensiero...abraco...

Luciene Rroques disse...

Sergio C. agradeço sua visita.
Muito obrigada pelas palavras.
Uma excelente semana.
Um grande abraço!

Rosa disse...

Ciao Luciene! Piacere di fare la tua conoscenza! Grazie per aver visitato il mio blog e per esserti iscritta fra i lettori fissi.
Ti aspetto ancora con piacere!
A presto,
Rosa

Luciene Rroques disse...

Rosa agradeço as palavras.
Um excelente final de semana.
um grande abraço!