domingo, 30 de setembro de 2012

Ícaro


"Os sonhos não correspondem ao corpo nem ao indivíduo isoladamente, mas aos conjuntos de informações pessoais absorvidas durante a vida. Sonhar com sentimentos é abstrair-se duas vezes; ser realista aos acontecimentos e sensações é observar a própria vida e brilhar na própria história. Não é preciso dominar o sol, mas ter domínio de si mesmo é necessário." Luciene Rroques.
Já tive muitos pseudônimos, mas sempre fui eu, Luciene Rroques. Certas coisas são essência e não adereços!

AVISO: Você pode não continuar esta leitura, tens todo o direito de não prosseguir.

 Ícaro

E por mais que seja tarde, não conforma-se aqueles que se diz o não! Viver indiferente é mostrar contravenção. Seja gente ou indigente, tente rente e se não tente, seja abastardo ou dê plantão; todos tomam o mesmo caminho ao falar da situação. É de falo, o que se fala; e se fala do falo se assusta a multidão. Pobre língua de tantas línguas que caladas caem ao chão. Competente torna-se a vida ao esclarecer a situação; daquilo que torna-se o bicho gente tão diferente se ouve então.

É um tanto fatídica tão avareza de sentimento. A quem diga : -Eu já não o aguento discutir mais os sonhos de Ícaro! E assim, passam-se os dias e se vive em lamento na busca do perfeito argumento que dê melhor entendimento.

- É lamentável dona Zeca, vê tanta gente que se preza cometer tal confusão. Eu como autoridade no assunto, já casado pela trigésima terceira vez, chego a ter pós doutorado no assunto.

Dona Zeca sorriu ao ouvir Ícaro dizer tanta zombeira só pra começar a tal conversa de fim de tarde. Lá estava o homem entendido no assunto para mais uma despedida de solteiro. E dona Zeca não podia discordar; afinal quem ali casou-se tanto quanto Ícaro ? Era bom ouvir mais um resumo do capitulo: as mulheres que se atropelem em toda a direção, caiam mortas, todas duras, na cova do coração.

Foi quando  a conversa começou a fervilhar e os ouvintes se encheram da situação. Fauno Castanha com sorriso sarcástico ouvia as teorias do amor e ficava ali a espreita, tentando entender o porque e para que é preciso  se entender, o que se quer entender. Ou seja, o que se quer entender não é parte do que se quer? Logo, como poderia ser, se assim não se quisesse? Ambos se entenderiam?

Algo era certo por todos:  muitos falavam que Ícaro  sabia mais. Ele era o mais casado entre todos. E ali naquela mesma roda de sempre. Na esquina entre as ruas Erasmo com  Camem Miranda, sentados à mesa de buteco discutiam a vida a dois.

Eram horas de discussões sempre com a mesma resposta: Tente outra vez e jamais desista do amor! O grupo se reunia todas as sextas e lá estavam na consagrada reunião semanal intitulada por Cármem Lúcia de: O valor de um; falo. Cármem pouco falava, ou muitas das vezes nada dizia; embora ouvisse tudo sempre muito atenta.

Ali, toda semana não faltavam debates calorosos como a pergunta de Ícaro naquela boquinha de noite:

- Escute dona Zeca, numa relação a mulher tem ou não que agradar o marido?

- Ícaro  meu caro, deixe de ser tolo, mulheres é quem precisam ser agradadas!

- Não acho dona Zeca, vocês falam muito mas não dizem o que queremos ouvir.

- Então diga senhor sabichão, o que é que vocês homens precisam tanto ouvir? Acho que nem vocês mesmos sabem o que gostariam de ouvir de uma mulher!

- Não diga isso, a senhora já tem maior idade entre todos aqui e sabe que o primeiro homem de uma mulher é especial e este quer ouvir que ele é especial!

Neste instante todos se olham a espera da resposta de dona Zeca. Ela abaixa a cabeça, olha para Cármem Lúcia e responde:

- Vejamos bem Ícaro, olhe a Cármem, o que você vê? 

O homem já nas vésperas de mais um casamento se assusta com a pergunta que lhe volta. Olha descabriado para Cármem, faz um gesto de levantar a sobrancelha esquerda. Pensa por alguns segundos e continua:

- Mas que pergunta dona Zeca, não estou falando da Cármem. Estou dizendo o que uma mulher deve dizer ao seu homem e a senhora por não saber a resposta joga a bola pra frente!

Cármem Lúcia ali sentada com todos, sorriu entre os dentes, aquele sorriso tão imperceptível que apenas o seu subconsciente fora capaz de capitar.  Abaixou os olhos em direção a mesa e continuou desenhando na mesma com o dedo indicador. Era desenho imaginário, mas valia a pena cada traçado feito ali na mesa. O silêncio pairou por alguns instantes e a tagarela senhora resolveu afrontar Ícaro .

- Decididamente Ícaro, vocês homens não sabem o que querem ouvir de uma mulher! Nem tão pouco imaginam o que querem e deve nos falar; não sabem de nada além do que há no meio de suas pernas; e eu garanto, não é o joelho de que falo é falo!

- É certo dona Zeca que o que se quer ouvir nunca é aquilo que se quer dizer? Como podem exigir de homens a tais palavras doces se não as diz a eles? Como se pode exigir tanto de nós homens se nem mesmo fazem questão de doar nada do que querem receber? Vocês não nos entende!

- É meu bom amigo, encurralei agora os teus pensamentos, qual é o lado mais carinhoso da história durante toda a existência da humanidade, homens ou mulheres?

Neste instante todos se olham à mesa, pois tratava-se de uma injusta pergunta. E mais uma vez a espera da resposta de Ícaro arregalava os olhos de dona Zeca. Ele abaixa a cabeça,  levanta-a subitamente. Olha para Cármem Lúcia e responde:

-Vejamos dona Zeca, olhe a Cármem, o que a senhora vê?

- Não inverte o jogo meu caro colega! Respondeu dona Zeca e continuou: 

- Queres de mim que de em ti a trégua? Então peço que já nem se case, e isso, tu me negas?! É inferno a vida a dois? E porque mais uma vez te entregas?!

O riso foi geral, de todos os presentes à mesa; até mesmo Cármem Lúcia resolveu esboçar tal satisfação pelo laço armado ao mais novo e velho ex solteiro do pedaço, Ícaro de Falo Falaço.
Fauno finalmente entrou na conversa:

- Sabe de uma coisa dona Zeca, to com a senhora, qual seria o motivo para Ícaro casar-se tanto se ele não gostasse do que as mulheres tem a lhe dizer?
Respondeu dona Zeca:

- Fauno aquele que muito quer entender a alma de uma mulher não casa-se com todas; este que se casa tantas vezes quanto Ícaro: é justo aquele que já desistiu de entender a mulher com quem sempre sonhou. Ícaro já não sonha!  Veja a Cármem Lúcia, o que você vê?

Nesta hora mais um silêncio à mesa e Ícaro revoltado com as palavras de dona Zeca resolve dar o troco. Não ia deixar barato a maldosa língua da senhora que sem nenhuma cautela adentrou ao íntimo de todos os teus casamentos.

Fauno meio sem jeito levanta-se da cadeira e sai em busca de mais uma bebida. Esperar o garçom pra que? O clima ia esquentar com toda certeza. Ícaro iria retrucar dona Zeca e acabaria sobrando para ele no meio daquele fogo cruzado. Melhor ir buscar a bebida e poupar as pernas do garçom.

Ícaro já exaltado bate com a mão esquerda sobre a mesa e diz:

- Somos inteligentes dona Zeca, conhecemos qualquer mulher, conquistamos todas, e as dominamos como a palma de nossas mãos! Dominamos o sexo frágil essa é a verdade! E somos os primeiros homens a nos deitar com vocês e lhes fazerem mulheres, antes disso nem mulheres vocês são!

Sorridente e já mais calma, por ver que o amigo já havia lhe compreendido ao nível da exaltação falica fatidica e falida; dona Zeca da uma olhadela para Cármem Lúcia e Pergunta:

- Cármem Lúcia o que você vê ?

Cármem ali terminando de desenhar uma rosa com o dedo em cima da mesa, passa o copo para o lado esquerdo e dá finalmente mais espaço para a rosa flutuar sobre a mesa . Pegando o copo com três dedos levanta-o vagarosamente, bebe um pequeno gole; sorri para dona Zeca;  aquele "sorrizinho" fino; recebe com a mão direita a bebida trazida por Fauno, respira profundamente, olha-o despropositadamente; vira-se para os outros à mesa  e finalmente abre a boca, então responde:

- Eu vejo o quanto é vantajoso para um homem entender quando uma mulher quer que ele seja o último e não o primeiro! Vá se embora Ícaro, vá, durma bem esta noite; e lembre-se amanhã pela manhã terás a chance de ser o último de uma trigésima terceira, e eu estarei lá!

Domine o dominador. O homem em si palpável; admirado porém não único o forte falo de homem admirável! Na sangrenta guerra, o frio fio, dá dó do sexo  incontrolável. Não se ouve o que nunca é esgotável. O admirável dominador um dia torna-se-a para si próprio o lastimável. Queira; o querer de todas estas, no eterno ser daquela. Que competente se torna a mente, daquele que se entende, e assim: torna-se o insubstituível a ela.
Ícaro em silêcio atravessou a rua e foi ter com o seu travesseiro, era a ultima noite; o sol iria brilhar logo pela manhã!

Parabéns, você descobriu este conto!
OBS: Este trabalho faz parte da série de contos que escrevo. Descrevendo conclusões e comportamentos sociais. Sei que algumas pessoas já conhecesse o meu trabalho (e até mesmo este conto). Mas hoje, quero compartilha-lo com todos vocês que visitam minha página, e pouco conhecem de minha escrita comportamental, posto que aqui, publico mais meus artigos, ensaios. 
Um abraço.
Espero não chocar ninguém, pois quando escrevo a duas possibilidades, ou se chora, ou apavora ! ( geralmente acontece) Mas é assim que escrevo!




10 comentários:

Tiziano disse...

Olá Luciene seu blog é cumprimentos muito interessantes
Eu enviar-lhe uma calorosa saudação da Itália

O Profeta disse...

De folhas de Outono se coroa uma tonta
Lancei pedras sobre as ondas furiosas
Teimosamente arde neste peito uma raiva
E vi muito lixo num covil de raposas

As coisas que um poeta vê
As coisas que que invadem uma alma demente
Num silencio contaminador, estonteante
Ouvi palavras de amargo presente

Cheguei finalmente a uma certa praia
Fiquei encoberto por uma mancha de gaivotas
Na impressionante fachada da minha alma
Fecham-se com estrondo todas as portas


Doce beijo

vieira calado disse...

Não se importe que chorem ou riem. Na vida há de tudo!
Bjsss

Enigma disse...

Justo!! justo!! justíssimo!!


Às vezes precisamos receber uma certa sacudidura para depois poder acordar. Excelente!! Deixo beijinhos e mais beijinhos no teu coração. Kiss!! Kiss!!

Enigma.

Fernando Santos (Chana) disse...

Espectacular....
Cumprimentos

Adriano disse...

Oi Luciene!
Acho que Ícaro, não foi nem o

Primeiro e nem o último!

É seu um belo Conto!

Deus abençoe sua semana .

Antônio Lídio Gomes disse...

OI Luciene, vejo aqui uma grande escritora.
Parabéns.
Obrigado pela visita, já estou seguindo o blog.

Enigma disse...

Olá Lu,

Lembrei de vc no sem frescura, espero que goste. Deixo um beijinho doce.

Enigma.

Bento Sales disse...

Olá, grande amiga Luciene!
Fiquei encantado e maravilhado com esse conto espetacular.
Você tem uma excepcional narrativa e uma linguagem com o colorido especial com figura de construção como assonância e trocadilhos, algo insólito.
O texto está repleto de sabedoria e reflexão sociológica.
Ícaro, como o mitológico, não tem estabilidade no que faz o que pensa, ou seja, seu voo ideológico também é curto. É somente forte em seus sonhos, persistência e ideais, jamais firme em sua ações.
Entender a essência feminina com experiência efêmera com quantidade de mulher, não é confiável, pois quantidade não é qualidade. Muito bem planejado, por parte da autora.

Essa música é muito bonita, inteligente e, sobretudo, contém muito sageza. É diferente das demais por ter feito muito sucesso com uma ótima melopeia e logopeia, algo que falta nas atuais. O curioso também é que não tem refrão, como as que caem nas graças do público.

Amiga, desculpe-me pelo extenso comentário, é que me empolguei muito com sua postagem!

Parabéns pela sabedoria e genialidade!

Abraços fraternos!

Luciene Rroques disse...

Professor Bento, agradeço muito o seu comentario, afinal é uma satisfação receber a analise de um mestre em literatura, nos meus simplorios textos. Agradeço muito.
Um bom final de semana.
Um grande abraço!